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DicasA arte, a educação do olhar e um convitepor Rafael Ávila


No mundo da arquitetura e do design há certos termos que, apesar de interferirem diretamente na vida de cada um de nós, para muitos ainda são distantes da realidade do dia a dia ou até irrelevantes. É o caso, por exemplo, de algumas expressões ligadas à experiência com a arte – observar o estilo da arquitetura, buscar a educação estética, refinar o olhar, entender o conceito, educar o ouvido, e por aí vai. Você já parou para pensar no real significado destas expressões e no porquê de ocuparem tão frequentemente o conteúdo de profissionais da arquitetura e do design, como é o caso da Ciça e de tantos outros?

Primeiramente, consideremos o seguinte: a arte é uma necessidade humana! Apesar de ser muitas vezes confundida como algo supérfluo ou banalizada como sendo “qualquer coisa”, ela está presente na vida do homem desde os primórdios, sempre ocupando um lugar de enorme importância. Sendo assim, não há quem não possa experimentá-la e colher os frutos do contato com ela para a própria vida. A arte é, aliás, especialmente para as pessoas mais simples. Ninguém que não entenda a linguagem das grandes obras, que não conheça os grandes museus do mundo ou que não tenha o “dom” de alguma expressão artística deve se sentir alheio a esta realidade.

Dito isto, consideremos que o tempo em que vivemos valoriza muito pouco tudo o que é relacionado à arte e à sua história. Trazendo para o campo da arquitetura e do design especificamente, o Brasil tem tesouros de valor inestimável espalhados por nossas cidades, obras de reconhecimento internacional, que vão muito além de cartões postais e monumentos turísticos. Entretanto, justamente pela nossa falta de educação para o contato com a arte e por não conhecermos a história e o valor de nossas obras, acabamos entregando-as cada vez mais ao esquecimento e ao descaso.

Faz sentido, portanto, que vejamos tão frequentemente em determinados perfis a expressão “refinar o olhar” ou “educar o ouvido” – variações daquilo que na literatura conhecemos por educação estética. Este refinamento e educação consistem basicamente no processo de se abrir à obra, de ver o que está além, tornando-nos mais sensíveis e, em última análise, mais humanos. A experiência com a arte não requer dinheiro, erudição, viagens caras e visitas a grandes museus; mas uma coisa é indispensável: a simplicidade. Quando nos colocamos diante de uma obra com abertura interior e buscamos experimentá-la, amadurecemos nossa própria percepção, na medida em que nos tornamos familiares a uma nova linguagem.

É por isso que cada viagem ou cada ida ao teatro tem o poder de nos tornar pessoas mais maduras na percepção das coisas, mais sensíveis e abertas ao que está além das aparências deste mundo. Quando educamos o olhar por meio de uma obra, estamos, na verdade, aprendendo sobre a história que nos antecede, enriquecendo nossa própria bagagem de vida, formando nossa opinião e, sobretudo, preparando- nos para a compreensão de realidades maiores. E isto, no tempo e na cultura em que vivemos, diante da realidade de nossas ruas e cidades, torna-se cada vez mais urgente.

Portanto, comecemos o quanto antes nosso processo de aproximação deste nosso tesouro, daquilo que temos de melhor e que muitas vezes mora logo ao lado.

Paço Imperial do Rio - Estilo Colonial
Palácio do Itamaraty - Estilo Neoclássico
Theatro Municipal - Estilo Eclético
Museu de Arte Moderna - Estilo Moderno

Independentemente de onde você estiver, comece! Observe a rua, o centro da cidade, os estilos arquitetônicos, os símbolos e formas das construções, colocando-se a caminho. E o mais importante: lembre-se que mais vale experimentar as obras com o coração que saber descrevê-las em termos técnicos e difíceis. Pois como dizia Rainer Maria Rilke, “As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a elas”.

Nos próximos textos caminharemos juntos por nossas ruas e cidades, descobrindo o valor e a história de peças deste tesouro inestimável. Até lá!

@rafael.avila

Rafael Ávila é designer gráfico e arquiteto. Seu primeiro contato com edição e tratamento de fotografias se deu aos 10 anos de idade. Depois de estudar design gráfico por conta própria, resolveu se dedicar por 4 anos a estudos religiosos junto à Ordem da Santa Cruz, que foi quando ampliou seus conhecimentos sobre línguas, arte e cultura geral. Hoje, é pesquisador na área de história da arte.